quarta-feira, 29 de março de 2017

UExit - O que a nomenklatura não entendeu é que estamos fartos.

Roma, 25 de Março de 1957 ou a Roma sitiada em 25 de Março de 2017

O que a nomenklatura não entendeu é que estamos fartos. E isso é mau (?) perguntar-se-á... talvez sim, talvez não.

Verdadeiramente, estes quinhentos milhões que um dia decidiram seguir juntos no seu futuro económico, social, fraterno e próspero, mal sabiam que, todos estes simples e humanos interesses comuns poderiam ficar, em sessenta anos, à mercê de uma secta que, inábilmente se apoderou das suas vontades, desígnio e futuro.

Não será difícil entender que os europeus, todos nós que nos juntámos, confiadamente ao longo de seis décadas, ambicionámos olvidar os conflitos e as diferenças, preparando e projectando o futuro de paz e progresso, conjuntamente. Enfrentando os riscos e as vantagens da globalização, estes quinhentos milhões de seres, optaram como indispensável a União, como elemento fundamental, aglutinador, para fazer frente aos desafios, aos perigos e ameaças de um mundo novo, cada vez mais desigual, egoísta e perigoso, com afrontamentos diversos ao longo dos mais dos treze mil quilómetros das fronteiras externas.

Mas a UE da solidariedade, implicou também a ajuda a povos, outros, que infelizmente não foram poupados à ambição, à violência apenas motivada pela sôfrega ganância das suas matérias primas, ou do interesse geo-estratégico de alguns poderes.

Dir-se-á que se repete, que se repetiu a história, particularmente ao longo das duas últimas décadas, o assalto a territórios cujo subsolo ou interesses políticos e económicos motivaram a intromissão externa. 

Finda a guerra fria, rápidamente os habituais guerreiros da democracia se levantaram em armas para acudir aos infelizes povos que, estando em paz, viviam sob regimes mais ou menos autoritários e sobretudo ditatoriais.

Mas a democracia impunha-se.

E, à pala, de umas quantas mentiras, que por insistentes, passaram a verdades, pelo menos temporáriamente, impôs-se a democracia pelo cano dos obuses, pelo julgamento kafkiano e sequente enforcamento de uns, e de outros, pelo bárbaro assassinato em plena rua, em fuga, pelas hordas revolucionárias de uma qualquer Primavera.

Aqueles que meses antes eram recebidos em diversos Estados desta nossa UE, com pompa e circunstância, com tendas montadas junto ao mar, com recepções elegantes, até carregadas de servilismo por parte dos anfitriões, servindo chá e salamaleques, ou melhor dizendo "salam'alaik", foram rápidamente esquecidos porque, se já não serviam, deitavam-se fora.

E foi assim.

E, foi também assim vista a bela Roma eterna e mãe que, em 25 de Março de 2017, se encontrava fechada, sitiada, desconfiada que algo estranho ou perigoso pudesse ocorrer e estragar a premonitória "festa" dos convivas cujos rostos sérios, de apreensão e tristeza, apenas auguravam o fim triste que se avizinha.

Mas não obstante, firmaram, selaram com as suas decisivas canetas, mais um contrato de boa continuidade e esperança, logo após os fastidiosos discursos de Tusk e Juncker, ambos insistindo na boa unidade, na manutenção e salvaguarda das elites a que pertencem e não pretendem deixar de pertencer. Nem permitir qualquer intromissão desses quantos milhões, de quem se servem mas cujas reprovações não consentem. 

E Roma continuou o seu dia.

Para trás, deixou a nomenklatura a franqueza das suas próprias declarações de 5 de Março...

"Nós agiremos concertadamente, se necessário com ritmos diferentes e com uma intensidade diferente, mas avançando na mesma direcção, como temos feito no passado, conforme os Tratados, mas sempre deixando a porta aberta a todos aqueles que desejem juntar-se a nós mais tarde. A nossa união é una e indivisível."

Indivisível ?!... sim. A nomenklatura NÃO SE DIVIDE.

Não se divide nem entende, jamais entenderá porque estamos fartos.

Estamos fartos, enjoados, we are all fed up... we had enough. Nous en avons assez...On en a marre...

Vamos então ser sérios. 

Não entende que, quinhentos milhões de seres, quase todo um continente, berço de todo o engenho humano ou quase todo, não quer mais ficar à mercê de um bando, tantas vezes ridículo de autocratas, funcionáriozecos presunçosos e convencidos de possuir a ciência e a verdade das coisas, que se abastecem de riqueza e serviços. 

Ignorando as gentes, mentindo, ofendendo, prometendo, falseando, ameaçando e destruindo tudo o que é, foi o grande desígnio de um raro e histórico conjunto de povos e nacões, que se quiseram diferentes, porém determinados a ficar unidos em progresso e em paz.

Não entendem. Jamais entenderão o artº 50º do Tratado de Roma. Temos pena... muita pena.

António Ventura
Roma, 29 de Março de 2017













  O GOLPE (Parte 1) O conhecido “golpe de Estado palaciano” é o tipo de golpe em que a tomada do poder se projecta e algumas vezes, di...