quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Troika: há dois anos e meio a criar excêntricos em Portugal

Marisa MatiasNo ano passado eram 785, este ano são 870. Têm emcomum uma fortuna superior a 30 milhões dedólares (perto de 25 milhões de Euros). São 0,009% da população. Mais do que milionários, são ultra-milionários. Portugal é hoje um país mais pobre e mais desigual, mas com mais ultra-milionários.
Muita da riqueza “fugiu” do país nos últimos dois anos e meio. O PIB encolheu 6%, há mais 300 mil desempregados, mais de 350 pessoas emigram a cada dia que passa. O país sob intervenção é este. Um país onde o verdadeiro ajustamento é feito por via do massacre salarial e dos bens públicos, a par da concentração de riqueza.
A crise poderia ter sido uma oportunidade para repensar o modelo de desenvolvimento desgraçado que nos trouxe até aqui, para propor um novo contrato social. Mas assim não foi. A crise está antes a ser usada como uma oportunidade para repor os lucros.
A entrada da Troika em Portugal, a conivência e a subserviência do governo português e as sucessivas medidas adoptadas fizeram com que, no nosso país, sejam precisos cada vez mais pobres para “produzir” um rico. Escrevia Almeida Garrett, há bem mais de um século: “Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos”.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014


ESTÁ A ACONTECER. JÁ SE APERCEBEU?


Acabámos de receber na nossa mesa de trabalho um artigo escrito pelo jornalista Nicolau Santos, que entendemos publicar, para outros o poderem analisar. É um artigo que merece ser lido até ao fim.
“Está a acontecer. Aquilo que nem nos passava pela cabeça que pudesse acontecer está mesmo a acontecer. Está a acontecer cada vez com mais regularidade as farmácias não terem os medicamentos de que precisamos. Está a acontecer que nos hospitais há racionamento) de fármacos e uma utilização cada vez mais limitada dos equipamentos. Está a acontecer que muitos produtos que comprávamos nos supermercados desapareceram e já não se encontram em nenhuma prateleira. Está a acontecer que a reparação de um carro, que necessita de um farol ou de uma peça, tem agora de esperar uma ou duas semanas porque o material tem de ser importado do exterior. Está a acontecer que as estradas e as ruas abrem buracos com regularidade, que ou ficam assim durante longos meses ou são reparados de forma atamancada, voltando rapidamente a reabrir. Está a acontecer que a iluminação pública é mais reduzida, que mais e mais lojas dos centros comerciais são entaipadas e desaparecem misteriosamente. Está a acontecer que nas livrarias há menos títulos novos e que as lojas de música se volatilizaram completamente. Está a acontecer que nos bares e restaurantes há agora vagas com fartura, que os cinemas funcionam a meio gás, que os teatros vivem no terror da falta de público. Está tudo isto a acontecer e nós, como o sapo colocado em água fria que vai aquecendo lentamente até ferver, não vemos o perigo, vamos aceitando resignados este lento mas inexorável definhar da nossa vida coletiva e do Estado social, com uma infinita tristeza e uma funda turbação.
    Está a acontecer e não poderia ser de outro modo. Está a acontecer porque esta política cega de austeridade está a liquidar a classe média, conduzindo-a a uma crescente pauperização, de onde não regressará durante décadas. Está a acontecer porque, nos últimos quase 40 anos, foi esta classe média que alimentou cinemas, teatros, espetáculos, restaurantes, comércio, serviços de saúde, tudo o que verdadeiramente mudou no país e aquilo que verdadeiramente traduz os hábitos de consumo numa sociedade moderna. Foi na classe média — de professores, médicos, funcionários públicos, economistas, pequenos e médios empresários, jornalistas, artistas, músicos, dançarinos, advogados, polícias, etc. —, que a austeridade cravou o seu mais afiado e longo punhal. E com a morte da classe média morre também a economia e o próprio país.
    E morre porque era esta classe média que mais consumia — e que mais estimulava — os produtos culturais nacionais, da literatura à dança, dos jornais às revistas, da música a outro tipo de espetáculos e de manifestações culturais. É por isso que a cultura está a morrer neste país, juntamente com a economia. E se a economia pode ainda recuperar lentamente, já a cultura que desaparece não volta mais. Um país sem economia é um sítio. Um país sem cultura não existe.
    Durante a II Guerra Mundial, quando o esforço militar consumia todos os recursos das ilhas britânicas, foi sugerido ao primeiro-ministro Winston Churchill que cortasse nas verbas da cultura. O homem que conduziu a Inglaterra à vitória sobre a Alemanha recusou perentoriamente. “Se cortamos na cultura, estamos a fazer esta guerra para qué?” Mutatis mutandis, a mesma pergunta poderíamos fazer hoje: se retiramos todas as verbas para a cultura, estamos a fazer este ajustamento em nome de quê? Mas esta, claro, é uma questão que nunca se colocará às brilhantes cabeças que nos governam”.
    Nicolau Santos
Muito há, que aos poucos nos vai arruinando e flagelando. Felizmente, que o Povo se vai apercebendo da má “roleta” governativa que diariamente vamos enfrentando.
Felizmente, que este sente a degradante situação em que vive e unido, manifestou o seu descontentamento, ao aderir em força às manifestações hoje realizadas.
Felizmente, que conscienciosamente nos vamos apercebendo, da má política, que diariamente os governantes nos vão impondo.
"As dificuldades incentivam a luta do homem e orientam os seus caminhos."

  O GOLPE (Parte 1) O conhecido “golpe de Estado palaciano” é o tipo de golpe em que a tomada do poder se projecta e algumas vezes, di...