sábado, 18 de janeiro de 2014

"Quando o calendário marque um qualquer dia do ano 2014, mas as nossas vidas tiverem retrocedido até finais dos anos setenta, decretarão o fim da crise e escutaremos na rádio as condições da nossa rendição.”

“O dia em que acabou a crise!

Quando terminar a recessão teremos perdido 30 anos de direitos e salários…

Um dia no ano 2014 vamos acordar e vão anunciar-nos que a crise terminou. Correrão rios de tinta escrita com as nossas dores, celebrarão o fim do pesadelo, vão fazer-nos crer que o perigo passou embora nos advirtam que continua a haver sintomas de debilidade e que é necessário ser muito prudente para evitar recaídas. Conseguirão que respiremos aliviados, que celebremos o acontecimento, que dispamos a atitude critica contra os poderes e prometerão que, pouco a pouco, a tranquilidade voltará à nossas vidas.

Um dia no ano 2014, a crise terminará oficialmente e ficaremos com cara de tolos agradecidos, darão por boas as politicas de ajuste e voltarão a dar corda ao carrossel da economia. Obviamente a crise ecológica, a crise da distribuição desigual, a crise da impossibilidade de crescimento infinito permanecerá intacta mas essa ameaça nunca foi publicada nem difundida e os que de verdade dominam o mundo terão posto um ponto final a esta crise fraudulenta (metade realidade, metade ficção), cuja origem é difícil de decifrar mas cujos objectivos foram claros e contundentes:

Fazer-nos retroceder 30 anos em direitos e em salários

Um dia no ano 2014, quando os salários tiverem descido a níveis terceiro-mundistas; quando o trabalho for tão barato que deixe de ser o factor determinante do produto; quando tiverem ajoelhado todas as profissões para que os seus saberes caibam numa folha de pagamento miserável; quando tiverem amestrado a juventude na arte de trabalhar quase de graça; quando dispuserem de uma reserva de uns milhões de pessoas desempregadas dispostas a ser polivalentes, descartáveis e maleáveis para fugir ao inferno do desespero, ENTÃO A CRISE TERÁ TERMINADO.

Um dia do ano 2014, quando os alunos chegarem às aulas e se tenha conseguido expulsar do sistema educativo 30% dos estudantes sem deixar rastro visível da façanha; quando a saúde se compre e não se ofereça; quando o estado da nossa saúde se pareça com o da nossa conta bancária; quando nos cobrarem por cada serviço, por cada direito, por cada benefício; quando as pensões forem tardias e raquíticas; quando nos convençam que necessitamos de seguros privados para garantir as nossas vidas, ENTÃO TERÁ ACABADO A CRISE.

Um dia do ano 2014, quando tiverem conseguido nivelar por baixo todos e toda a estrutura social (excepto a cúpula posta cuidadosamente a salvo em cada sector), pisemos os charcos da escassez ou sintamos o respirar do medo nas nossas costas; quando nos tivermos cansado de nos confrontarmos uns aos outros e se tenhas destruído todas as pontes de solidariedade. ENTÃO ANUNCIARÃO QUE A CRISE TERMINOU.

Nunca em tão pouco tempo se conseguiu tanto. Somente cinco anos bastaram para reduzir a cinzas direitos que demoraram séculos a ser conquistados e a estenderem-se. Uma devastação tão brutal da paisagem social só se tinha conseguido na Europa através da guerra.

Ainda que, pensando bem, também neste caso foi o inimigo que ditou as regras, a duração dos combates, a estratégia a seguir e as condições do armistício.

Por isso, não só me preocupa quando sairemos da crise, mas como sairemos dela. O seu grande triunfo será não só fazer-nos mais pobres e desiguais, mas também mais cobardes e resignados já que sem estes últimos ingredientes o terreno que tão facilmente ganharam entraria novamente em disputa.

Neste momento puseram o relógio da história a andar para trás e ganharam 30 anos para os seus interesses. Agora faltam os últimos retoques ao novo marco social: um pouco mais de privatizações por aqui, um pouco menos de gasto público por ali e “voilá”: A sua obra estará concluída.

Quando o calendário marque um qualquer dia do ano 2014, mas as nossas vidas tiverem retrocedido até finais dos anos setenta, decretarão o fim da crise e escutaremos na rádio as condições da nossa rendição.”

Concha Caballero

(Concha Caballero é licenciada em filosofia e letras, é professora de línguas e literatura. Entre 1993 e 2008 ocupou um lugar no parlamento da Andaluzia.
Deputada autonómica entre 1994 e 2008 foi uma das deputadas chave na aprovação da Reforma do Estatuto Autonómico da Andaluzia a que imprimiu um caracter mais social e humano do que, no principio, os grupos maioritários do parlamento pretendiam.
Actualmente colabora em diferentes meios de comunicação. Escreve sobre actualidade politica. Em 2009 publicou o livro “Sevilha cidade das palavras”.)

Pode ser que venham a ouvir falar de nós !!!

Se ao menos a Nação nos prestasse apoio, nos manifestasse compreensão e nos acompanhasse com a solidariedade que se exige, nos nossos últimos anos de vida !!!! Mas não !!! Somos uns "enjeitados" que para aqui andamos, a ver se morremos todos para se acabar a tão exigida justiça pátria, livrando a classe política dirigente de um compromisso que continuadamente se recusa a enfrentar. 
De vez em quando ouvimos, claras e objectivas palavras, corajosamente proferidas em um qualquer 10 de Junho, em defesa da solidariedade exigível que a Pátria deve, a todos aqueles que mais não fizeram que obedecer como deviam a um poder político que, pouco importa, estaria ou não certo.
Também os militares de hoje se limitam a cumprir ordens. Aqui os saudamos com amizade, mas de igual modo, só a história dirá se, os palcos de guerra onde são introduzidos pelo poder político e a justeza do propósito, está ou não certa ?? !! O que vale, é o nosso cumprimento da obrigação militar, que nos foi ditada pelos mais altos órgãos do Estado e do poder político vigente à época. Não compete, como nunca competiu, aos militares, discutirem ou porem em causa as ordens da Nação. Foi isso que se fez, durante 14 longos e penosos anos de guerra colonial. Não temos que discutir a justeza da guerra, ou melhor, a injusteza da guerra em cuja, falsa virtude nos "obrigaram" a acreditar. Os militares de hoje, bem sabem que, as ordens não se discutem. Mas...recordemos à Nação que não deve, sob nenhum pretexto, "enxotar-nos" ou esperar ansiosamente pelo nosso fim. A dívida, ainda hoje e felizmente tem credores. Somos ainda mais de 300.000 cidadãos de honra e glória que amamos Portugal, o nosso glorioso hino e a nossa querida bandeira. A Nação deve ter algum cuidado! Desculpe-nos a Pátria por não termos sido "desertores"!! Hoje e sempre
VIVA PORTUGAL !!!
(Pode ser que venham a falar de nós....)
António Ventura

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